“O Voto de Jacó”
“Assim, pois, te dê Deus do
orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações se
encurvem a ti; sê senhor de teus irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a
ti; malditos sejam os que te
amaldiçoarem, e benditos sejam os que te
abençoarem”
(Gênesis 27:28-29).
Todos nós cristãos conhecemos, ou ao menos deveríamos
conhecer a conturbada história deste grande personagem, que segundo as
Escrituras se atreveu até mesmo a “lutar com Deus” (Gênesis 32:24-30).
Refiro-me, é claro, ao patriarca Jacó, cujo nome o Senhor mudou para Israel.
Bem, os detalhes precisos de sua vida são encontrados do capítulo 25 do livro
de Gênesis, quando Rebeca, sua mãe, é informada por Deus acerca dos gêmeos que
haviam em seu ventre e sobre as nações que deles se levantariam, até o capítulo
47 do mesmo livro, quando de sua morte. É importante destacar aqui que, embora
Jacó tenha se utilizado de engano para tomar a primogenitura que por direito
pertencia a Esaú seu irmão, o próprio Deus conclui suas palavras à Rebeca com
respeito a estas nações dizendo “a maior (Edomitas – os descendentes de Esaú)
servirá à menor (Israelistas – os descendentes de Jacó)” (Gênesis 25:23). Aqui
vemos um claro exemplo de como Deus faz uso de Sua presciência para cumprir
seus eternos propósitos.
O texto citado acima (Gênesis 27:28-29) refere-se,
portanto, ao resultado do engano perpetrado por Jacó e sua mãe, e que levaram
Isaque, seu pai, a abençoar a Jacó julgando-o ser Esaú. Esaú, por sua vez
afrontou o Senhor, ao rejeitar sua primogenitura por um mísero prato de
lentilhas dizendo: “... para que me servirá a primogenitura?” (Gênesis 25:32).
Foi então que Isaque, em vista do furor de Esaú por haver
sido enganado por seu irmão, confirmou uma vez mais a benção dada a Jacó e o
despediu para a casa de seu tio Labão, irmão de Rebeca. Vejamos o texto:
“E ISAQUE chamou a Jacó, e abençoou-o,
e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã; Levanta-te,
vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das
filhas de Labão, irmão de tua mãe; E Deus Todo-Poderoso te abençoe,
e te faça frutificar, e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos; E te dê a bênção de Abraão, a ti
e à tua descendência contigo, para que em herança possuas a terra de tuas peregrinações, que Deus deu a
Abraão”
(Gênesis 28:1-4).
Mais
adiante vemos que o próprio Deus confirma a Jacó em um sonho a promessa feita tempos
antes a Abraão. Veja:
“Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás
deitado, darei a ti e à tua descendência; E a tua
descendência será como o pó da terra, e
estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na
tua descendência serão benditas todas
as famílias da terra; E eis que estou
contigo, e te guardarei por onde quer
que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que
haja cumprido o que te tenho falado” (Gênesis 28:13-15).
Diante disso, Jacó faz um
voto ao Senhor:
“E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e
me guardar nesta viagem que faço, e
me der pão para comer, e vestes para vestir; E eu em paz tornar à casa de meu
pai, o SENHOR me será por Deus; E esta pedra que tenho posto por coluna será
casa de Deus; e de tudo quanto me deres,
certamente te darei o dízimo (Gênesis 28:20-22).
Bem, o restante da história
deste notável patriarca prossegue, como já informamos, até o capítulo 47 do
livro de Gênesis.
Deste ponto em diante, em
mais algumas poucas linhas, trataremos especificamente do voto de Jacó
registrado nos versos 20, 21 e 22 do capítulo 28 do livro de Gênesis (conforme
acima citado), com vistas a desmistificar o entendimento antibíblico acerca do
suposto “dízimo cristão”. Primeiramente, é importante esclarecer que até aquele
momento, desde o dízimo voluntário de Abraão dos espólios da guerra que
enfrentou para resgatar seu sobrinho Ló, nada encontramos nas Escrituras com
respeito a uma prática regular e contínua no tocante ao dízimo como requerido
posteriormente por Deus dos descendentes de Jacó (os israelitas) mediante a lei
dada por intermédio de Moisés. Não há dúvidas de que “muitas águas rolaram”
desde Jacó até que o dízimo se tornasse uma obrigação legal para os israelitas
(porém, não para todos, como mais adiante, em outro artigo, esclareceremos).
Poderíamos até mesmo fazer a seguinte pergunta aos tão fervorosos defensores da
obrigatoriedade do dízimo para o cristão: Será que Isaque, filho de Abraão e
pai de Jacó, “dizimou” ao Senhor? Onde encontramos qualquer registro nas
Escrituras que ao menos insinue ou que nos permita deduzir tal coisa com
respeito a este patriarca? Nada nos é dito sobre isso! Nem mesmo que Isaque o
tenha feito voluntariamente sequer uma única vez. Não estou afirmando que
eventualmente ele nunca o fez, mas nada encontramos nas Escrituras com respeito
a um “dízimo de Isaque” e jamais deveríamos esquecer que não podemos ir além do
que está escrito (1 Coríntios 4:6).
Quanto ao “dízimo de Jacó”,
está claro que o mesmo tratava-se de um voto, e como tal, indicava um ato
voluntário de sua parte. Ademais, Jacó poderia muito bem não tê-lo feito,
afinal ele já havia recebido a benção de seu pai e o próprio Deus, por meio das
promessas acima mencionadas, havia dado a ele todas as garantias de que o “guardaria por onde quer que ele fosse até que houvesse cumprido o que lhe havia falado” (Gênesis 28:15). E o que Deus lhe havia falado? O que
encontramos nos versos 13 e 14 do mesmo capítulo. Veja: “esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua
descendência; E a tua descendência será como o pó da terra, e
estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua
descendência serão benditas todas as famílias da terra” (vs. 13, 14). Além disso,
todos nós cristãos sabemos, ou deveríamos saber, que esta foi a mesma promessa
que Deus fez a Abraão, confirmando-a agora a Jacó. Portanto, Jacó poderia muito
bem não ter feito voto algum! Mas, de fato, a questão não é esta, a saber, se
ele deveria ou não ter feito tal voto. O inescapável aos olhos de quem usa de
imparcialidade e discernimento para com as Escrituras é que o voto de Jacó foi
espontâneo e não uma obrigação legal, um dever ou uma imposição divina, e tal
fato, portanto, nada tem a ver com dízimo segundo a lei mosaica, embora muitos
defensores do suposto “dízimo cristão” adorem fazer “malabarismos” para impor a
obrigatoriedade de tal prática para igreja.
Veremos, posteriormente, de
que forma o dízimo de Jacó “pode” estar relacionado ao fato de haver Deus
sancionado esta prática para o povo israelita, lembrando que o dízimo pela lei
sempre esteve relacionado à terra de Canaã e somente a esta terra.
D. S. Castro.
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